Entre o bairro das Andorinhas e o bairro da Misericórdia, em Braga, inscreve-se a horta urbana de São Vicente — um espaço de cultivo comunitário que, à semelhança de tantas outras hortas urbanas, carrega uma herança cultural e social longa. Inspirado nos jardins operários do final do século XIX, em França — onde trabalhadores urbanos encontravam não só sustento, mas também lugar para o lazer, o encontro e a celebração — o Atelier Local, sediado em Valongo, propõe uma arquitetura que homenageia essa história: um Monumento à vida quotidiana. Um espaço que oferece sombra, apoio e tempo partilhado aos hortelãos e à comunidade que com eles habita o lugar.
Implantado no limiar entre a horta e o percurso pedonal do bairro das Andorinhas, o monumento assume a forma de uma estrutura de madeira quadrangular com 4 x 4 metros, marcada por uma secção triangular que economiza material e gesto construtivo. A face voltada para o bairro apresenta réguas de madeira pintadas alternadamente em rosa e azul, de onde se recorta um círculo de 1,40 metros de diâmetro. Este círculo gira sobre si mesmo, transformando-se numa mesa ou janela, e ativando a relação entre interior e exterior — entre a horta e o bairro. Do lado de fora, um banco acolhe quem por ali passa; do lado de dentro, um abrigo resguarda os hortelãos, criando um espaço de pausa, encontro e partilha. Entre ambos, a mesa circular torna-se ponto de contacto simbólico e prático — onde se podem partilhar excedentes agrícolas, reunir e dialogar.
Com este monumento, o Atelier Local constrói um elo sensível entre práticas quotidianas e vínculos comunitários. Um espaço de transição entre trabalho e celebração, entre produzir e partilhar — onde a arquitetura, mais do que abrigo, se afirma como um gesto reivindicativo de cuidado contínuo na vizinhança.