Na urbanização da zona da Makro, repousa a base de uma antiga fonte — hoje incompleta. Originalmente desenhada por Moura Coutinho, o arquiteto responsável por alguns dos mais emblemáticos edifícios de Braga do século XX, como o Theatro Circo, esta fonte ocupou outrora um lugar central na Praça da República. Diz-se, nas vozes da vizinhança, que parte da estrutura se perdeu ou danificou aquando da sua deslocação. Outros contam que simplesmente se desfez — entre memórias difusas e esquecimentos. Partindo deste vestígio histórico e da sua presença atual no espaço público da urbanização, a arquiteta Patricia da Silva propõe uma reinterpretação sensível: devolver significado a este vestígio fragmentado, conferindo-lhe um novo uso no quotidiano comunitário.
Dez chapas curvas de aço, com quatro milímetros de espessura, são unidas como se costuradas em torno da base da fonte — agora transformada em banco — formando uma cortina opaca. Esta estrutura protege e resguarda o interior, mas não o encerra: através de uma janela-portal, convida quem passa a entrar, a atravessar a membrana de aço e a descobrir um novo ecossistema que emerge no seu âmago. No interior, revela-se um jardim — espaço de contemplação, protegido do ritmo da praceta, que só pode ser inteiramente observado a partir das varandas dos edifícios que o rodeiam. Um lugar de encontro entre vizinhanças humanas e mais-que-humanas.
Vestígio(s) parte de uma história fragmentada para imaginar novas formas de vizinhança. Ao longo do festival, a cortina de aço oxidar-se-á lentamente, transformando-se em matéria viva que acompanha o ritmo do tempo. No final, a estrutura será desmontada, mas dois vestígios permanecerão: um jardim partilhado e as marcas da oxidação deixadas no chão. Sinais de um processo efémero, compreensível apenas por quem o viveu — ou por quem o descobrir mais tarde — como memória inscrita no lugar e nas relações que ali se criaram.