Entre a horta urbana da Quinta das Lameiras e o parque de merendas que lhe é contíguo, desenha-se um campo fértil de relações: de um lado, o gesto de plantar; do outro, o de partilhar à mesa. É neste cruzamento de práticas complementares — cultivar e alimentar — que se inscreve a proposta do coletivo RAM, ateliê de arquitetura sediado em Mindelo, Cabo Verde. Inspirando-se no conceito cabo-verdiano de Morabeza — expressão cultural de hospitalidade, bem-estar e pertença —, a proposta ergue-se como espaço de acolhimento, promovendo afetos, generosidade e encontros entre a horta, o parque e a vizinhança.
A clareira central do parque de merendas é o ponto de ancoragem da estrutura desenhada pelo coletivo RAM. A intervenção compõe-se de dois elementos principais — o cubo e a pele — que coabitam com as mesas e bancos de merendas preexistentes. Na clareira, ergue-se um cubo de cinco metros, construído com barrotes de madeira de secção quadrada que, juntamente com traves diagonais, reforçam a estrutura e, ao mesmo tempo, filtram os acessos — guiando os corpos vizinhos no espaço e convidando à descoberta e apropriação. No seu interior, um prisma cilíndrico octogonal desenha uma pele aérea feita de rede leve e tubos metálicos, suspensa por cabos de aço. Em contraste com a copa das árvores, esta rede subtil funciona também como suporte expositivo para materiais de construção locais reutilizados — selecionados pela associação Nada Novo — e para outros que a vizinhança possa vir a acrescentar no futuro.
Com Morabeza, propõe-se mais do que uma estrutura: propõem uma atitude. Uma hospitalidade arquitetónica que acolhe e intervém sobre o lugar — onde plantar, cuidar, partilhar e alimentar se tornam gestos vitais para repensar a vizinhança de hoje e de amanhã.